sábado, 15 de maio de 2021

Najara Gonçalves

 


Eu sangro


Já me cortaram de tantas formas que 

para parece nem mais doer

mas cada corte mata!

em cada corpo preto, mata!

Meu ódio chora o sangue que é meu sem ser... 


Eu, que sangro todo mês 

Eu, que sou tantas em tantas dores 

Eu, que sou preta em tantas cores


E você, que minimiza a violência e a dor 

que me escorre das pernas

do ventre 

do peito... 


Você,

que não ouviu o _"aviso da lua que menstrua"_

 Há um furacão se formando

A mata tá dançando

 O ferro tá esquentando O 

fogo que arde

são os olhos da preta se armando 

Não se proteja

Porque onde quer que esteja, 

Meu raio vai te secar.

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Sou uma mulher preta cis, mãe solo, lésbica, candomblecista, professora de história, doutoranda em História Social na UFRRJ. Vivo no interior da Bahia e sou professora substituta na UNEB. Sou mãe de uma criança de 11 anos e aos 37 assumi minha sexualidade, depois de anos de dores e violências silenciosas no ambiente doméstico. Escrever poesia é meu grito e minha liberdade. Escrevo para desaguar e enfrentar monstros e medos. A poesia é meu refúgio e fortaleza, minha conexão ancestral com as vozes das minhas e meus que foram silenciadas.  

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