sábado, 15 de maio de 2021

Naiane Miranda

 


Abstrata


Se não levanto, meus pés furados 

para mostrar cicatrizes

deixo de ser 

andarilha? 


Quem disse

que as palavras de minha 

boca "feminina"

não branca

não podem ser 

brandas internas, 

fantasiadas? 


Se a minha poesia

por acaso

não tocar na casca ,

na brasa

de minha pele queimada 

de minha flor deflorada

ela não tem valia?


Me desculpe, 

mas não falo

quando você quer. 

No meu abstrato

me orgulho

de não ser mais um:

não sou mais um homem 

branco lírico, poeta, 

falocêntrico

de mil sentidos que só ele 

sente ainda bem...


Mas, nem ouse presumir

que a minha poesia

vai ser resumir 

 

ao tato

 

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Me chamo Naiane Miranda, sou baiana e negra que cresceu sendo chamada de 

 

morena e demorou a se perceber como pertencente ao grupo, mesmo 

 

sofrendo com o racismo velado de nossa sociedade. 

 

Filha de pais separados de um casamento conflituoso e violento, minha 

 

trajetória e vivências é muito inspirada em valores como a busca por 

 

educação e pela arte de cada um. 

 

Fui muito estimulada pela minha mãe, que lutou sozinha para sustentar 

 

seus três filhos, vencendo muitas opressões ocasionadas pelo 

 

patriarcado, pela pobreza e a desigualdade social. 

 

Escrevo poesia desde criança e atualmente também tenho explorado outras 

 

escritas, como a de contos de horror, e expressões artísticas, como a 

 

ilustração digital e a dança. 

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