sábado, 15 de maio de 2021

Louise Queiroz

 


DENGUINHO 

para C.


o toque ameno das mãos,

o torso molhado, molhado:

imagem e semelhança do meu.


se não a vejo, no tato a 

reconheço: água sobre água

coxas, peitos, barriga, buceta


[e toda ancestralidade me reconhece 

quando ela me chama: preta]


nós duas

a verdadeira imagem e
semelhança de deus.


[e o amor responde: preta]

 

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Sou estudante de Letras na UFBA, tenho 27 anos, sou poeta e autora do livro Girassóis estendidos na chuva. A poesia chegou pra mim muito antes da palavra. Os silêncios e silenciamentos, os medos, as violências, chegaram para mim depois da poesia. Chegaram com o contato com o mundo. As palavras vieram para mim como recurso para transitar no meio de todas essas coisas – sejam elas boas ou ruins. Vieram para ensinar às minhas mãos e ao meu corpo linguagens estratégicas. E essa consciência eu só começo a ter agora após passar por um longo processo de compreensão do meu próprio corpo e de como ele se coloca nos espaços. Hoje percebo que meus caminhos com a literatura não se encerram e muito menos se fincam apenas na palavra. Meu corpo está em um fluxo de movimentos e atravessamentos que também constroem a minha trajetória enquanto poeta. Escrever é estar em contato constante com a leitura e consequentemente com inúmeras formas de movimentos dentro e fora do cenário literário. Os meus textos conversam com os textos e as escritas de outras mulheres, assim como meu corpo.

 

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