sábado, 15 de maio de 2021

Laura Franco


 

"de hoje a oito" 

Dia dela,
corpo ferve;  

casa aprisiona
e sou desejo de rua
imunda de gente.

Toda quarta-vermelha
sou fome desembestada:
boca sedenta. 

Tenho pelos eriçados
e mão sinuosa
acariciando vulva
macia e quente.  

Semana rasgada ao
meio, só resta sentido
em me deixar guiar
pelos ventos de
Oyá. 

Bicos de
peitos. Olhos
vidrados. E assim,
noite-dia, corre
solto riacho
que sou entre pernas. 

É que quarta-feira
bate forte feito
baque de trovão
em mim. 

Nela, viro assombro:
vejo raio e vou me banhar
de chuva no mar. 

Dançar na tempestade.
Dançar a tempestade.
Ser a tempestade. 

Fechar os olhos
e ser
prazer. Gozar junto
e deixar ser
sem medo qualquer. 

Se assim não for, enlouqueço.

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Sou artista das linguagens do corpo e do som. Ao longo da vida, encontrei nas palavras um modo de expressividade das minhas singularidades e vivências mais íntimas. Escrever poemas e prosas poéticas se fez então modo de partilha sensível do meu olhar sobre perspectivas de ser mulher cabôca, negrindígena e bissexual lesbocentrada no sec. XXI. Parte desta produção partilho em www.alzemarrudalecrim.blogspot.com

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