sexta-feira, 11 de junho de 2021
sábado, 15 de maio de 2021
Vitória Matos
me tirou o tino
destampar o sol
e ele pudesse voltar a cobrir meu
corpo. Foram vinte e três minutos...
Andreza Benguela
Arreda, homem que aí vem mulher!
Vem serena e gargalhando, de batom vermelho,
sua taça tem o sangue vital do mundo,
sua gargalhada é na cara de quem antes
de saber o nome, disse ki (bunda) primeiro.
Arreda, homem que aí vem mulher!
Ela é a Outra de quem dela sente inveja.
Com turbante, ela amarra o amor na
cabeça
e com uma facada, abre as ideias do coração.
Arreda, homem que aí vem mulher!
Ela escolhe o que quer ser, ela está onde
quiser. Antes de você falar, ela já te escuta.
No poder do feminino, bote fé.
Arreda, homem que aí vem mulher
Preta, quikilombola é arretada.
Escolheu a maternagem parindo
axé.
Em cada verso um ebó!
Quem vem de lá é MULHER
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sou mãe solo, estudante, professora, militante do movimento negro,
candomblecista e uma poetisa que ainda não publicou um livro mas que ama
escrever e ama ser quem é, uma mulher preta que persegue os sonhos do
seu povo. amo escrever, e sempre fiz desde criança, compartilho meus
escritos e minhas redes sociais e onde acho espaço para expressar minha
alma.
Janine da Silva
Quem dera querer apenas o essencial,
sem besteiras,
deitar sobre a
mandíbula
olhando sem olhos
o céu sem estrelas
Quem dera
permanecer apenas
intacta
macia e
rosada sem
cortes sem
marcas
Quem dera pudesse, eu
remoer certos
bolos
desfrutar mais uns
gostos
deslamber,
cuspir outros
Mas não sou de boca
qualquer que sequer
sabe o que prova. Eu sinto o
frio da colher
como o carinho que me toca.
Eu sinto histórias nas gengivas.
Sinto incontáveis salivas.
O sabor de paixões
derretidas com minhas
papilas gustativas.
Arte Glossal num Percurso de Língua
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Tenho de 19 anos, nasci e cresço numa pequena comunidade no município de Itiúba, na Bahia. Em meio às dificuldades da vida, encontro na escrita a liberdade para me expressar, desde as dores às belezas de ser mulher, e o que mais me fizer sentir e me inspirar. A poesia é pra mim, sobretudo, um poder de organização para uma mente confusa, insegura, mas com sonho de se conhecer e se permitir. Embora sendo algo muito íntimo, como um momento comigo mesma, acredito que desabafos e empatia salvam, assim, a arte é mais bonita quando compartilhada.
Naiane Miranda
Abstrata
Se não levanto, meus pés furados
para mostrar cicatrizes
deixo de ser
andarilha?
Quem disse
que as palavras de minha
boca "feminina"
não branca
não podem ser
brandas internas,
fantasiadas?
Se a minha poesia
por acaso
não tocar na casca ,
na brasa
de minha pele queimada
de minha flor deflorada
ela não tem valia?
Me desculpe,
mas não falo
quando você quer.
No meu abstrato
me orgulho
de não ser mais um:
não sou mais um homem
branco lírico, poeta,
falocêntrico
de mil sentidos que só ele
sente ainda bem...
Mas, nem ouse presumir
que a minha poesia
vai ser resumir
ao tato
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Me chamo Naiane Miranda, sou baiana e negra que cresceu sendo chamada de
morena e demorou a se perceber como pertencente ao grupo, mesmo
sofrendo com o racismo velado de nossa sociedade.
Filha de pais separados de um casamento conflituoso e violento, minha
trajetória e vivências é muito inspirada em valores como a busca por
educação e pela arte de cada um.
Fui muito estimulada pela minha mãe, que lutou sozinha para sustentar
seus três filhos, vencendo muitas opressões ocasionadas pelo
patriarcado, pela pobreza e a desigualdade social.
Escrevo poesia desde criança e atualmente também tenho explorado outras
escritas, como a de contos de horror, e expressões artísticas, como a
ilustração digital e a dança.
Carol Barbosa
Anseio
Se não temessem tanto
o amor de iguais
meus olhos te visitariam
com a ternura
que te dedico
nas noites em que habitamos
o mundo todinho
do teu quarto
Se não temessem tanto
o amor de iguais
eu beijaria o
espaço
entre tua
nuca
e a orelha esquerda
enquanto as pessoas
sorririam com aquele
afeto
expresso e dono
de si
Se não temessem tanto
o amor de iguais
não estaríamos perdidas
enquanto o vermelho
escarlate
mancha o espaço
que antes
pertencia
ao laço
de duas mãos
Se não temessem tanto
o amor de iguais
com os
estilhaços
do que não podem ser
agora meus caminhos
não estariam áridos
e o lado direito da cama
ainda seria teu
e da tua risada
de menina
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Eu me chamo Carol Barbosa, tenho 22 anos e desde a infância sou
apaixonada por Literatura. No ensino médio participei durante três anos
dos projetos de incentivo do governo estadual para produções artísticas
nas escolas públicas. Eu sempre gostei de escrever poesias, contos,
crônicas e esse projeto possibilitou que eu tomasse coragem para mostrar
minhas produções para outras pessoas. Hoje tenho uma página no
Instagram voltada para meus poemas, a "Do que me afeta".
Louise Queiroz
DENGUINHO
para C.
o toque ameno das mãos,
o torso molhado, molhado:
imagem e semelhança do meu.
se não a vejo, no tato a
reconheço: água sobre água
coxas, peitos, barriga, buceta
[e toda ancestralidade me reconhece
quando ela me chama: preta]
nós duas
a verdadeira imagem e
semelhança de deus.
[e o amor responde: preta]
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