quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Quem é Ana Montenegro?

 


Ana Lima Carmo, conhecida como Ana Montenegro  nasceu em 13 de abril de 1915 na cidade
de Quixeramobim, no interior do Ceará. Mas, como ela rotineiramente gostava de afirmar:
“sou cearense de nascimento, carioca de coração e baiana por escolha”. 
Ana Montenegro atuou na área do direito, foi ativa jornalista, desenvolveu intensa pesquisa 
histórica sobre os movimentos populares e suas lutas de contestação.
Ana Montenegro entrou para o Partido Comunista Brasileiro, no dia 02/07/1945, tendo sua ficha
de filiação assinada pelo próprio, Carlos Marighella.  Aprofundou sua participação nas lutas
político-sociais nas manifestações em apoio a uma ocupação que a população de trabalhadores
sem teto fizeram no bairro da Liberdade. Essa luta tornou-se um emblema pela moradia na Bahia
e ficou conhecida como a ocupação do “Corta-braço”, em 1947, posteriormente transformada em
bairro e chamado de Pero Vaz.  


Sendo também poetisa, escreveu em Berlim, no outono de 1969, quando aconteceu
o assassinato do seu amigo e camarada,
Carlos Marighella:


Em seu enterro não havia velas:

Como acendê-las, sem a luz do dia?

Em seu enterro não havia flores:

Onde colhê-las, nessa manhã fria?

Em seu enterro não havia povo:

Como encontrá-lo, nessa rua vazia?

Em seu enterro não havia gestos:

Parada inerte a minha mão jazia.

Em seu enterro não havia vozes:

Sob censura estavam as salmodias.

Mas luz, e flor, e povo, e canto
responderão “presente”, chegada
a primavera mesmo que tardia!

 

No período do intervalo democrático (1945/1964) Ana Montenegro exerceu uma intensa
atividade ideológica, atuando na imprensa comunista e em outros veículos. Publicou centenas
de artigos em jornais. Foi uma das fundadoras do jornal Momento Feminino.

Participou de instâncias políticas da luta feminista, a exemplo União Democrática de Mulheres
da Bahia, Comitê Feminino pró Democracia, Liga Feminina da Guanabara e a Federação
Brasileira de Mulheres, entidades com intensa presença de mulheres que participavam das
lutas político-sociais.

Com o golpe militar de 1964, Ana Montenegro teve que tomar o caminho do exílio,
tornando-se a primeira mulher exilada pela Ditadura.

Estabelecida na Alemanha, Ana Montenegro teve importante papel na organização das lutas
feministas e na imprensa que debatia essa questão: foi integrante da seção para
América Latina da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIN), quando
trabalhou na revista dessa entidade: Mulheres do Mundo Inteiro. Também trabalhou em
organismos internacionais como a ONU e a UNESCO,

Após a derrota da ditadura, Ana Montenegro avançou na luta político-social, atuou no
combate ao racismo e aprofundou o debate sobre a questão de gênero.

Publicou os livros: Mulheres – participação nas lutas populares;  Uma história de lutas;
Ser ou não ser feminista e Tempos de Exílio.

Ana Montenegro foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2005 e, no dia 30 de março de 2006, 
faleceu de causas naturais. Em seu enterro: o povo, as mulheres simples, o mundo político e
intelectual e seus camaradas encheram o salão para um ato político da mais bela homenagem.
Seu caixão ao baixar para a cremação estava coberto com a bandeira vermelha, marcada com
a foice e o martelo da luta das trabalhadoras do campo e da cidade, foi enterrada na terra que
escolheu como sua: Salvador. 

Ana Montenegro, presente!


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