de Quixeramobim, no interior do Ceará. Mas, como ela rotineiramente gostava de afirmar:
“sou cearense de nascimento, carioca de coração e baiana por escolha”.
político-sociais nas manifestações em apoio a uma ocupação que a população de trabalhadores
sem teto fizeram no bairro da Liberdade. Essa luta tornou-se um emblema pela moradia na Bahia
e ficou conhecida como a ocupação do “Corta-braço”, em 1947, posteriormente transformada em
bairro e chamado de Pero Vaz.
Sendo também poetisa, escreveu em Berlim, no outono de 1969, quando aconteceu
o assassinato do seu amigo e camarada, Carlos Marighella:
Em seu enterro não havia velas:
Como acendê-las, sem a luz do dia?
Em seu enterro não havia flores:
Onde colhê-las, nessa manhã fria?
Em seu enterro não havia povo:
Como encontrá-lo, nessa rua vazia?
Em seu enterro não havia gestos:
Parada inerte a minha mão jazia.
Em seu enterro não havia vozes:
Sob censura estavam as salmodias.
Mas luz, e flor, e povo, e canto
responderão “presente”, chegada
a primavera mesmo que tardia!
No período do intervalo democrático (1945/1964) Ana Montenegro exerceu uma intensa
atividade ideológica, atuando na imprensa comunista e em outros veículos. Publicou centenas
de artigos em jornais. Foi uma das fundadoras do jornal Momento Feminino.
Participou de instâncias políticas da luta feminista, a exemplo União Democrática de Mulheres
da Bahia, Comitê Feminino pró Democracia, Liga Feminina da Guanabara e a Federação
Brasileira de Mulheres, entidades com intensa presença de mulheres que participavam das
lutas político-sociais.
Com o golpe militar de 1964, Ana Montenegro teve que tomar o caminho do exílio,
tornando-se a primeira mulher exilada pela Ditadura.
Estabelecida na Alemanha, Ana Montenegro teve importante papel na organização das lutas
feministas e na imprensa que debatia essa questão: foi integrante da seção para
América Latina da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIN), quando
trabalhou na revista dessa entidade: Mulheres do Mundo Inteiro. Também trabalhou em
organismos internacionais como a ONU e a UNESCO,
Após a derrota da ditadura, Ana Montenegro avançou na luta político-social, atuou no
combate ao racismo e aprofundou o debate sobre a questão de gênero.
Publicou os livros: Mulheres – participação nas lutas populares; Uma história de lutas;
Ser ou não ser feminista e Tempos de Exílio.
Ana Montenegro foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz em 2005 e, no dia 30 de março de 2006,
faleceu de causas naturais. Em seu enterro: o povo, as mulheres simples, o mundo político e
intelectual e seus camaradas encheram o salão para um ato político da mais bela homenagem.
Seu caixão ao baixar para a cremação estava coberto com a bandeira vermelha, marcada com
a foice e o martelo da luta das trabalhadoras do campo e da cidade, foi enterrada na terra que
escolheu como sua: Salvador.
Ana Montenegro, presente!
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